quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Olá pai...vamos ao circo!


Dia 1 de Janeiro.Amanhece e já paira no ar uma excitação de aventura.Vamos, na nossa ida tradicional,ao circo,ao Coliseu! Toda vaidosa com os meus novos sapatinhos pretos de verniz,vestido grená com os pompons farfalhudos,casaco quentinho bem grande para servir para o ano que vem,lá vou de mão bem agarradinha à mãe, numa algazarra com os meus irmãos e com o pai a comandar a descida acelerada para a estação. Há sempre imponderáveis quando se vai apanhar o comboio...poderá chegar adiantado,atrasado, faltar naquele dia...e depois é preciso comprar os bilhetes ( o que leva já a apreensões sobre quem terá direito ao bilhete da mãe ,necessário para o jogo..) Até chegar o comboio há afinal uma grande espera o que leva a ralhetes, zangas,chamamentos.Enfim o início da costumeira viagem do princípio de ano! Lá está ele o comboio! Entrar em ordem é a rigorosa premissa. Depois começa o primeiro drama. quem vai à janela? Eu,que sou a mais pequena!.Não, ela que é a mais velha!Não, a mãe comigo ao colo...não, os dois, os gémeos num só lugar,pois não têm bilhete ( oh tristeza, já não tenho bilhete para o jogo!). Já estamos arrumadinhos e lá vamos vendo quem entra,quem nos admira ,aos quatro manos todos aperaltados! Mas o lado do mar é o melhor, sobretudo depois de Paço de Arcos. Aí o ar encosta-se ao comboio e por vezes uma onda feita em salpicos tenta entrar na carruagem. Mas não é o mar , é o Tejo, nada de enganos ! É a aproximação a Lisboa. E cá está ela a cidade, grande ,barulhenta e com um cheirinho a caramelo, estranho e doce. Vamos então iniciar a perigosa travessia rumo ao circo! Bem presos pela mãos uns aos outros. Atentos os pais aos perigos, e eu aos eléctricos que rápidos e sacoleantes, tilintam à nossa passagem, à barafunda dos carros, ao engraçado polícia sinaleiro! O pai sabe bem andar em Lisboa, não é preciso mais apreensões. Seguimos quase colados a ele e passados mais uns ralhetes, que nos proibem de ver as montras, as bonecas,os brinquedos, chegamos à rua do Coliseu. Que confusão! Tanta gente, empurrões,pregões. Minha mão cola-se à da mãe e só se desgruda à chegada ao camarote. Segundo drama...quem fica à frente,quem espreita melhor cá para baixo? Que sorte sermos os mais pequenos! Somos nós, os gémeos, que ficamos encostados à balustrada.Chegámos cedo com certeza, o tempo passa ,quase adormecemos. Até que por fim..." Meninos e meninas a grande festa vai começar"! E baloiçam no ar as trapezistas,e saltam os equilibristas e entram os elefantes, os póneis e os cãezinhos! E o pobre palhaço cai,levanta-se, toca, e sempre incompreendido continua a esforçar-se para agradar ao rico e insolente companheiro...e os meus olhos já se fecham e o pai acorda.me..." Vá ,vê, dormes depois" E passado um tempo de sonhos, voltamos para o dia seguinte...para a escola, para a caixa de lápis nova, para a minha linda boneca.


Um comentário:

anamar disse...

E hoje veio-te à memoria, não só o circo, concerteza...muito mais! sempre foi um dia muito especial!
Beijoca